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Sistema reprodutor feminino

Introdução

O sistema genital feminino inclui ovários, tubas uterinas, útero, vagina e genitália externa. Ele produz os ovócitos, secreta hormônios sexuais e garante o desenvolvimento do embrião até o nascimento. Após a menarca, o ciclo reprodutivo passa a ser controlado por mecanismos hormonais, tornando-se irregular perto da menopausa e cessando com ela. Os ovários originam-se das cristas gonadais, e as demais estruturas internas, dos ductos de Müller.

 

 

Ovários:

   Os ovários humanos têm formato semelhante ao de uma amêndoa e apresentam, em média, 3 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 1 cm de espessura. 

  Histologicamente, distinguem-se duas regiões principais:

  • Medular: localizada mais internamente, formada por tecido conjuntivo frouxo com abundantes vasos sanguíneos, linfáticos e nervos.

  • Cortical: situada mais externamente, contém os folículos ovarianos, que são estruturas compostas por um ovócito (célula germinativa) envolvido por células foliculares. Ao redor dos folículos encontra-se o estroma ovariano, um tecido conjuntivo rico em fibroblastos com disposição característica em redemoinhos e sensíveis a estímulos hormonais.

A superfície do ovário é revestida por um epitélio simples pavimentoso ou cúbico, conhecido como epitélio germinativo, que se apoia sobre uma lâmina basal. Logo abaixo encontra-se a túnica albugínea, uma camada de tecido conjuntivo denso responsável pela aparência esbranquiçada do órgão.

 

                                                                                                 FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem: Parte de um corte de ovário. A região medular contém muitos vasos sanguíneos e na região cortical predominam os folículos ovarianos. (Hematoxilina e eosina – HE. Pequeno aumento.)

Desenvolvimento dos ovários durante a vida intrauterina.

   As células germinativas primordiais originam-se no saco vitelino e, entre a 4ª e a 5ª semana de gestação, migram para as cristas gonadais, onde ocorrerá o desenvolvimento das gônadas. Essas células passam por intensa divisão mitótica, originando as ovogônias.

  Por volta do 5º mês de gestação, cada ovário contém aproximadamente 7 milhões de ovogônias. A partir desse ponto, elas entram em meiose, que é interrompida na fase de diplóteno da prófase I, originando os ovócitos primários. Cada um deles é envolvido por uma camada de células foliculares achatadas, formando os folículos primordiais, que estarão presentes já no final da gestação.

Foliculogênese e Atresia

     O processo de desenvolvimento dos folículos, desde o folículo primordial até o estágio final antes da ovulação (folículo de Graaf), é chamado foliculogênese e dura cerca de 290 dias.

  Grande parte dos folículos sofre atresia, um processo de degeneração que pode ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento. Em média, a mulher nasce com cerca de 1 a 2 milhões de folículos, mas apenas 300 mil chegam à puberdade e cerca de 450 ovócitos são liberados durante toda a vida reprodutiva.

Etapas de Desenvolvimento dos Folículos

  Folículos Primordiais: Localizados logo abaixo da túnica albugínea, compostos por um ovócito primário envolvido por células foliculares achatadas.

                                                                                                                FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem: Região cortical do ovário. O ovário é revestido pelo epitélio germinativo, que se apoia na túnica albugínea. Na porção mais externa da região cortical, acumulam-se os folículos primordiais, cada um formado por um ovócito envolvido por uma camada de células foliculares achatadas. Observe o estroma ovariano que envolve os folículos. (HE. Médio aumento.)

   Folículos Primários: Com o estímulo do FSH, o ovócito aumenta de tamanho e as células foliculares tornam-se cuboides, formando a zona pelúcida, uma camada glicoproteica essencial para a fertilização.

                                                                                                        FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem: Na zona cortical do ovário, um folículo primário unilaminar, a fase inicial de crescimento de um folículo. É formado por um ovócito envolvido por uma camada de células foliculares cuboides. Entre o ovócito e a camada de células foliculares, observe uma zona pelúcida em início de formação. Em torno do folículo, o estroma ovariano composto de um tecido conjuntivo característico, com suas células e fibras em diferentes direções, às vezes formando redemoinhos. (HE. Médio aumento.)

  Folículos Secundários (Pré-antrais): As células foliculares proliferam formando múltiplas camadas (células da granulosa). Surge a teca folicular, dividida em interna (produtora de andrógenos convertidos em estrógenos pelas células granulosas) e externa (com características semelhantes ao tecido muscular liso).

                                                                                                          FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem: Folículo ovariano secundário ou pré-antral formado por um ovócito e por várias camadas de células foliculares também denominadas células da granulosa. O ovócito é envolvido por uma zona pelúcida. (Picrossirius-hematoxilina. Médio aumento.)

  Folículos Terciários (Antrais): Forma-se o antro folicular, uma cavidade cheia de líquido, e o ovócito fica rodeado por células da corona radiata, apoiado no cumulus oophorus.

                                                                                                                 FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem:  Folículo antral. Caracterizado pelo aumento de seu tamanho e pela presença de uma grande cavidade, o antro folicular. O ovócito é envolvido pela zona pelúcida. As células da camada granulosa se reorganizam em três grupos: uma camada granulosa que reveste a parede do folículo; a corona radiata, que envolve o ovócito; e o cumulus oophorus, no qual se apoia o ovócito. Uma teca folicular envolve o folículo. Observe um folículo atrésico. (HE. Médio aumento.)

  Folículo de Graaf: Estágio final do desenvolvimento folicular, com diâmetro aproximado de 25 mm, pronto para a ovulação.

​                                                                          FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem:  À esquerda da imagem, destaca-se um grande folículo antral quase na etapa de folículo de Graaf. O ovócito está envolvido pela corona radiata e está apoiado nas células do cumulus oophorus. A parede do folículo é formada por uma camada granulosa relativamente delgada que envolve um grande antro. Observe outros tipos de folículos: um pequeno folículo antral e um folículo atrésico. (HE. Pequeno aumento.)

Ovulação e Seleção do Folículo Dominante

Durante cada ciclo menstrual, um folículo se destaca por maior sensibilidade ao FSH e torna-se o folículo dominante, que será liberado durante a ovulação. Essa liberação ocorre após um pico de LH, que também estimula a retomada da meiose pelo ovócito. Caso ocorra fertilização, a divisão celular prossegue, formando o zigoto.

Fertilização

A fertilização geralmente acontece na ampola da tuba uterina e restabelece o número diploide de cromossomos. O ovócito permanece viável por cerca de 24 horas após a ovulação.

Ovulação

  A ovulação é a liberação do ovócito maduro pelo ovário, geralmente por volta do 14º dia do ciclo menstrual. Esse processo é estimulado pelo pico do hormônio LH, que ocorre em resposta ao aumento dos estrogênios produzidos pelos folículos. Além da liberação do ovócito, o LH promove a retomada da meiose e o início da formação do corpo-lúteo.

  O corpo-lúteo surge a partir do folículo que rompeu na ovulação. Ele funciona como uma glândula endócrina temporária, produzindo principalmente progesterona, além de estrogênios, para preparar o útero para uma possível gestação.

  Quando não há fecundação, o corpo-lúteo regride em cerca de 10 a 12 dias, formando o corpo albicans, e a queda hormonal leva à menstruação. Caso ocorra gravidez, o embrião produz HCG, que mantém o corpo-lúteo ativo por alguns meses até que a placenta assuma a produção hormonal.

                                                                                FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem: Corpo-lúteo. As células granuloso-luteínicas, em maioria, coram-se em rosa pela eosina e são maiores que as teco-luteínicas, pouco coradas. (HE. Médio aumento.)​​

Tubas uterinas:

  As tubas uterinas, também chamadas de ovidutos, são dois canais musculares com cerca de 12 cm de comprimento que ligam os ovários ao útero. Uma extremidade, chamada infundíbulo, se abre próximo ao ovário e possui prolongamentos em forma de franjas, as fímbrias, responsáveis por captar o ovócito liberado na ovulação. A outra extremidade, conhecida como intramural, atravessa a parede do útero e se abre em sua cavidade.

  Sua parede é formada por três camadas: a mucosa, com pregas longitudinais que são mais evidentes na região da ampola; a camada muscular, composta por músculo liso que auxilia na movimentação do ovócito; e a serosa, um revestimento de peritônio. O epitélio da mucosa é formado por células ciliadas, que ajudam no transporte do ovócito em direção ao útero, e por células secretoras, que produzem substâncias nutritivas e protetoras.

  Durante a ovulação, a extremidade com fímbrias se aproxima do ovário e, junto aos movimentos da musculatura e ao batimento ciliar, facilita a captura e o transporte do ovócito. Além disso, as tubas ajudam a impedir que microrganismos cheguem da cavidade uterina ao peritônio.

  Um problema clínico importante relacionado a essas estruturas é a gravidez ectópica tubária, quando o embrião se fixa na tuba. Como ela não tem capacidade para comportar o desenvolvimento embrionário, ocorre ruptura e hemorragia, exigindo tratamento cirúrgico imediato.

                                                                              FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem: Secções transversais da tuba uterina. A. No nível do infundíbulo da tuba, o lúmen (*) é subdividido por inúmeras pregas da mucosa (setas). B. No nível do istmo, o diâmetro da tuba é pequeno, o lúmen (*) é estreito e a mucosa tem poucas pregas. (HE. Pequeno aumento.)

                                                                               FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

                                 Imagem:  O epitélio que reveste a tuba uterina é formado por células ciliadas e por células secretoras não ciliadas, mais fortemente coradas. (Pararrosanilina e azul de toluidina. Grande aumento.)

Útero:

         O útero é dividido em 3 principais partes: a porção dilatada chamada de corpo, o fundo do útero que compreende à parte superior, além da porção mais estreita com abertura para a vagina, sendo o colo do útero.

         A parede uterina é composta por três camadas distintas. Na parte externa, a maior parte do órgão é revestida por tecido conjuntivo e por uma camada do peritônio parietal, formada por mesotélio. Em certas regiões, essa cobertura pode ser substituída por uma adventícia, composta exclusivamente por tecido conjuntivo, sem a presença de mesotélio. Internamente, o útero é constituído por uma camada espessa de músculo liso chamada miométrio, além da porção mucosa conhecida como endométrio, que reveste o interior da cavidade uterina.

Miométrio:

    Representa a porção mais espessa da parede uterina, é formado por volumosos feixes de musculatura lisa entremeados por tecido conjuntivo, organizados em quatro camadas, não claramente delimitadas. As camadas mais externas (primeira e última) apresentam predominantemente fibras no sentido longitudinal, ou seja, acompanhando o eixo maior do útero. Já entre essas camadas externas, encontram-se as porções intermediárias, por onde circulam os principais vasos sanguíneos do útero.

Endométrio:

        É formado por um epitélio simples colunar e uma lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo que abriga glândulas tubulosas simples, algumas com ramificações mais profundas próximas ao miométrio. As células epiteliais incluem tipos ciliados e secretórios; no interior das glândulas, as células ciliadas são raras. A lâmina própria contém muitos fibroblastos e uma matriz extracelular rica em fibras de colágeno tipo III.

         Estruturalmente, o endométrio é dividido em duas camadas:

  1. Camada basal: situada junto ao miométrio, composta por tecido conjuntivo e pelas porções finais das glândulas endometriais.

  2. Camada funcional: inclui o epitélio de revestimento, o tecido conjuntivo subjacente e a maior extensão das glândulas, sendo responsável pelas alterações cíclicas durante o ciclo menstrual.

         

        Embora essas camadas não sejam nitidamente delimitadas em cortes histológicos, elas apresentam funções distintas: a camada funcional sofre modificações e descama durante o ciclo menstrual, enquanto a camada basal permanece estruturalmente estável.

Ciclo menstrual:

    A partir da puberdade, os hormônios produzidos pelos ovários, sob controle da adeno-hipófise, passam a desencadear mudanças cíclicas nos órgãos do sistema reprodutor feminino, caracterizando os ciclos menstruais.

   Os hormônios sexuais femininos, estrógeno e progesterona produzidos nos ovários, são responsáveis por controlar majoritariamente a estrutura e funcionamento dos órgãos que compõem o sistema reprodutor feminino. A proliferação, diferenciação e secreção pelas células epiteliais, assim como também o tecido conjuntivo, dependem também da ação de tais hormônios.

   O ciclo menstrual é dividido em três fases: menstrual, folicular ou proliferativa e luteal ou secretora, sendo as mudanças, estruturais e funcionais, ocorridas neste período de forma gradual.

Fase folicular (proliferativa):

    A fase proliferativa do ciclo menstrual dura, em média, 10 dias e tem início logo após a menstruação, quando o endométrio se encontra bastante fino, com espessura entre 0,5 e 1 mm. Nesse período, há crescimento acelerado de folículos ovarianos, dos quais um evoluirá para folículo de Graaf. As tecas internas desses folículos secretam estrógenos em quantidades crescentes, elevando os níveis plasmáticos do hormônio.

    Sob ação dos estrógenos, ocorre regeneração da camada funcional do endométrio, com intensa proliferação de células epiteliais e do tecido conjuntivo da lâmina própria. Isso leva à reconstrução do epitélio de revestimento, ao crescimento das glândulas e à formação de novos vasos sanguíneos. O epitélio endometrial superficial é simples colunar, com células ciliadas e não ciliadas. As glândulas são tubulares, retilíneas e com lúmen estreito.

      Ao final dessa fase, as células glandulares aumentam a quantidade de retículo endoplasmático rugoso e o complexo de Golgi, preparando-se para maior atividade secretora. As glândulas tornam-se mais espessas e levemente sinuosas. O endométrio atinge, então, cerca de 3 mm de espessura.

Fase secretora (luteal):

    Tem início logo após a ovulação, com duração em média de 14 dias, coincidindo com a presença do corpo lúteo ovariano, que secreta progesterona. A partir da influência desse hormônio em níveis plasmáticos crescentes, as glândulas endometriais secretam produtos que se acumularam em seus lumens.

      Na fase secretora, as glândulas endometriais tornam-se dilatadas e assumem um formato tortuoso, sendo um aspecto morfológico típico desse período. A atividade mitótica diminui, e há edema no tecido conjuntivo da lâmina própria. Esses fatores, somados à secreção glandular e ao crescimento da mucosa, fazem com que o endométrio atinja sua espessura máxima, em torno de 5 mm.

    Caso ocorra fecundação, cerca de 7 a 8 dias após a ovulação, o embrião já terá alcançado o útero e se fixado ao epitélio endometrial, dando início à implantação. Nesse estágio, as secreções glandulares servem de fonte nutricional para o embrião antes da sua inserção no tecido endometrial.

     A progesterona também exerce a importante função de inibir as contrações do músculo liso do miométrio, prevenindo movimentos que poderiam dificultar a implantação do embrião ou mesmo levar à interrupção da gestação.

FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

Imagem: A. Endométrio durante a fase proliferativa do ciclo menstrual: as glândulas uterinas (marcadas com asteriscos) apresentam-se retilíneas. B. Endométrio na fase luteal: as glândulas (também indicadas por asteriscos) adquirem aspecto tortuoso e seu lúmen dilatado encontra-se preenchido por secreção.

Fase menstrual:

    O corpo-lúteo permanece funcional por cerca de 10 a 12 dias após a ovulação. Caso não ocorra a fecundação e a implantação do embrião, não há produção de HCG pela placenta. Como consequência, o corpo-lúteo interrompe a secreção de progesterona, cujos níveis plasmáticos caem rapidamente, levando ao início da menstruação, que dura em média de 3 a 4 dias.

   A menstruação está intimamente relacionada à vascularização da camada funcional do endométrio. As artérias arqueadas percorrem o miométrio e dão origem a dois tipos de vasos que irrigam o endométrio: as artérias retas, que nutrem a camada basal, e as artérias espirais, que suprem a camada funcional.

     No início da fase menstrual, as artérias espirais se contraem, interrompendo o fluxo sanguíneo e provocando hipóxia nas células da camada funcional. Essa privação de oxigênio leva à necrose das paredes arteriais, bem como das células glandulares e do tecido conjuntivo. O rompimento das artérias provoca o sangramento menstrual. Paralelamente, ocorre um influxo de leucócitos e células do sistema imune, gerando uma resposta semelhante à inflamação. Enzimas metaloproteinases são ativadas e degradam a matriz extracelular, facilitando o desprendimento da camada funcional, que será eliminada juntamente ao sangue.

   Ao final da menstruação, resta apenas a camada basal do endométrio, que contém as porções profundas das glândulas. Essas células servirão de base para regenerar o epitélio superficial e reiniciar o ciclo, sob estímulo dos estrógenos produzidos por folículos ovarianos em crescimento.

 

Colo uterino:

     Compreende à porção inferior e cilíndrica do útero, sendo que sua estrutura histológica difere do restante do órgão. O canal cervical, localizado no interior da cérvice, conecta o útero à vagina e é revestido por epitélio simples colunar produtor de muco. Já a porção externa do colo é revestida por epitélio estratificado pavimentoso. A cérvice é composta predominantemente por cerca de 85% do tecido conjuntivo denso e possui poucas fibras musculares lisas.

   Sua mucosa contém glândulas cervicais ramificadas, que produzem muco e não sofrem descamação durante a menstruação. Ao longo do ciclo menstrual apresenta poucas alterações. Durante a gestação, as células glandulares se proliferam e secretam muco mais denso e abundante.

     As secreções cervicais têm papel essencial na fertilização: tornam-se mais fluidas na ovulação, facilitando a entrada de espermatozoides no útero. Já na fase luteal ou durante a gravidez, sob ação da progesterona, essas secreções tornam-se espessas, dificultando o acesso de esperma e microrganismos. No final da gestação, ocorre intensa degradação das fibras colágenas da cérvice, promovendo o amolecimento e a dilatação necessários para o parto.

FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024

Imagem: Corte longitudinal da região do colo uterino, mostrando sua abertura para a vagina. O canal cervical percorre o centro dessa porção e é revestido por epitélio simples colunar, que se estende até a área de transição, onde dá lugar ao epitélio estratificado pavimentoso típico da mucosa vaginal.

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Histologia aplicada:

Câncer cervical:

Se origina principalmente do epitélio de revestimento do colo do útero em cerca de 85% dos casos, mas também pode surgir das glândulas cervicais em mais de 10% dos casos. No passado, era uma das principais causas de morte em mulheres. Atualmente, apesar da alta incidência, a mortalidade diminuiu consideravelmente. Essa queda é resultado do diagnóstico precoce obtido por meio de exames preventivos periódicos, como o teste de Papanicolaou, que identifica alterações celulares iniciais no epitélio cervical.

Vagina:

         

      Sua parede é composta por três camadas distintas: mucosa, muscular e adventícia. A vagina não possui glândulas próprias; o muco que a lubrifica provém das glândulas cervicais do colo do útero.

      Seu epitélio de revestimento é estratificado pavimentoso, com espessura entre 150 e 200 μm, podendo conter leve presença de queratina, embora sem formar camadas queratinizadas como na pele. Esse epitélio sofre alterações ao longo do ciclo menstrual: na fase proliferativa (por influência do estrógeno), torna-se mais espesso com células superficiais pavimentosas; na fase secretora, fica mais delgado e as células superficiais assumem forma poliédrica.

      Sob estímulo estrogênico, o epitélio vaginal acumula glicogênio. Quando essas células descamam, o glicogênio é liberado no lúmen vaginal e metabolizado por bactérias locais, produzindo ácido lático, responsável pelo pH vaginal ácido. Esse ambiente ácido atua como defesa contra microrganismos patogênicos.

       A lâmina própria da mucosa é constituída por tecido conjuntivo frouxo rico em fibras elásticas, linfócitos e neutrófilos, que em certas fases do ciclo, podem atravessar o epitélio e atingir o lúmen vaginal.

    A camada muscular da parede vaginal é predominantemente composta por feixes de músculo liso orientados longitudinalmente, com alguns feixes circulares mais evidentes na região interna. Externamente, a adventícia de tecido conjuntivo denso com muitas fibras elásticas confere alta elasticidade à parede vaginal, auxiliada por um extenso plexo venoso presente nessa região.

 

 

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FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024​

Imagem: Epitélio estratificado pavimentoso da vagina, apoiado em um tecido conjuntivo denso.

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Genitália externa:

  A genitália externa feminina, chamada vulva, inclui o clitóris, os lábios menores e lábios maiores, além de glândulas que se abrem no vestíbulo, região que corresponde à entrada da vagina.

  O clitóris, assim como o pênis, tem origem embrionária semelhante e é formado por dois corpos eréteis cobertos por epitélio estratificado pavimentoso, terminando em uma pequena glande e um prepúcio rudimentar.

  Os lábios menores são pregas de mucosa com tecido conjuntivo rico em fibras elásticas e revestidos por epitélio estratificado pavimentoso, com uma fina camada de queratina na superfície. Possuem glândulas sebáceas e sudoríparas, sendo uma transição entre pele e mucosa.

  Os lábios maiores são pregas de pele que contêm tecido adiposo, músculo liso e muitas glândulas sebáceas e sudoríparas. Sua face externa possui pelos, enquanto a interna é semelhante à dos lábios menores.

  Entre as estruturas do vestíbulo, destacam-se as glândulas vestibulares maiores (de Bartholin), que produzem muco e têm função semelhante às glândulas bulbouretrais masculinas. Essas glândulas podem inflamar e formar cistos dolorosos. 

  Também existem glândulas vestibulares menores, localizadas principalmente ao redor da uretra e do clitóris.

  A região é ricamente inervada, com diversas terminações sensoriais, incluindo corpúsculos de Meissner e de Pacini, que participam da resposta ao estímulo sexual.

FONTE: Junqueira & Carneiro, 2024​

Imagem: Epitélio estratificado pavimentoso da vagina, apoiado em um tecido conjuntivo denso. O citoplasma das células epiteliais é claro porque contém grande quantidade de glicogênio, que é extraído durante o processamento histológico. (HE. Médio aumento.)

Glândulas mamárias:

     São estruturas exclusivas dos mamíferos e, nas mulheres, são compostas por 15 a 25 unidades glandulares organizadas em lóbulos. Conforme o estado fisiológico, essas glândulas assumem morfologia tubular ou tubuloalveolar composta. Elas derivam de glândulas sudoríparas modificadas e apresentam tanto secreção apócrina quanto merócrina, sendo responsáveis pela lactação.

    Cada glândula ocupa um lóbulo separado por tecido conjuntivo e tecido adiposo. Os ligamentos suspensores (ou ligamentos de Cooper), formados por faixas mais densas de tecido conjuntivo, estendem-se da pele até os músculos da parede torácica, conferindo sustentação à mama.

   A arquitetura das glândulas mamárias, sobretudo nas regiões secretoras, varia de acordo com diferentes fases fisiológicas, como puberdade, gestação, lactação e menopausa.

      Estrutura das glândulas mamarias inativas:

     Em mulheres fora da gestação e lactação, as glândulas mamárias estão inativas. Suas porções secretoras são ductos terminais revestidos por epitélio simples (células achatadas ou cubóides baixas), rodeados por células mioepiteliais contráteis. Esses ductos se unem em ductos intralobulares, que se ligam a ductos extralobulares e, por fim, ao ducto galactóforo. A parte final do ducto galactóforo, o seio galactóforo, desemboca no mamilo por 15 a 25 orifícios. Próximo à pele, o epitélio torna-se estratificado pavimentoso.

     Durante o ciclo menstrual, há proliferação celular na ovulação e maior hidratação do tecido conjuntivo na fase pré-menstrual, podendo aumentar o volume mamário.

     O mamilo, de formato cônico, é revestido por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado, que continua com o da aréola. Esta pode escurecer na gestação por acúmulo de melanina. Abaixo do mamilo, há fibras musculares lisas e terminações nervosas sensoriais, importantes para o reflexo de ejeção do leite, mediado pela ocitocina.

     Na puberdade, os estrogênios promovem o desenvolvimento mamário, com aumento do tecido adiposo e conjuntivo, além de maior ramificação dos ductos.

        Glândulas Mamárias Durante a Gravidez e Lactação:

     Durante a gravidez, as glândulas mamárias crescem significativamente, com aumento da ramificação dos ductos terminais e formação de alvéolos nas extremidades, reduzindo proporcionalmente o tecido conjuntivo e adiposo em relação ao parênquima glandular. Esse desenvolvimento é estimulado por hormônios como estrogênios, progesterona e lactogênio placentário, enquanto a prolactina é essencial para ativar a produção de leite na lactação.

       Os alvéolos, formados por células epiteliais cuboides envoltas por células mioepiteliais contráteis, liberam leite sob ação da ocitocina, que promove a contração dessas células e o impulso do leite pelos ductos galactóforos até os seios galactóforos. O tecido conjuntivo ao redor apresenta grande quantidade de linfócitos e plasmócitos, que aumentam na fase final da gestação, produzindo imunoglobulina IgA, importante para conferir imunidade passiva ao bebê por meio do leite.

      No final da gestação e durante a lactação, as células secretoras acumulam gotículas de lipídios, secretadas por via apócrina, representando cerca de 4% do leite. As proteínas do leite, incluindo caseínas, lactalbumina e IgA, são secretadas por mecanismo merócrino e correspondem a aproximadamente 1,5% do leite. A lactose, principal açúcar do leite, constitui cerca de 7% da sua composição.

            Regressão pós-lactacional e involução senil das glândulas mamárias:

      Após o término da amamentação, a maioria dos alvéolos formados durante a gravidez sofre apoptose e é reabsorvido, com células descartadas no lúmen alveolar sendo eliminadas por macrófagos.

         Já após a menopausa, devido à queda na produção dos hormônios sexuais, as glândulas mamárias passam por involução, caracterizada pela redução do tamanho das glândulas, atrofia das porções secretoras e dos ductos, além da diminuição do tecido conjuntivo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FONTE: Carneiro & Junqueira, 2024

Imagem: Glândula mamária: A. Em repouso, observa-se a predominância de ductos terminais circundados por tecido conjuntivo. B. Durante a lactação, há formação de alvéolos (A) nas extremidades dos ductos terminais, com secreção presente no interior dos alvéolos, indicada pelas setas​​.

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Referências bibliográficas:

1. JUNQUEIRA, Luiz Carlos U.; CARNEIRO, José. Histologia Básica: Texto e Atlas. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2023. E-book. p.467. ISBN 9788527739283. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/reader/books/9788527739283/. Acesso em: 01 jul. 2025. 

© 2022 by Paulo Santos. 

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